domingo, 1 de janeiro de 2012

Marcas mortais

Cecília teve a vida cercada por mortes. Ela nasceu em 7 de novembro de 1901, 3 meses após a morte de seu pai, e perdeu sua mãe antes de completar 3 anos, desde então foi criada pela avó materna. Seu primeiro marido, o artista plástico português,  Correia Dias , suicidou-se. Será essa a explicação para seus poemas tristes e reflexivos? Apesar disso, ela não se acha triste, muito menos feliz, como diz o poema Motivo:


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.


Pois é, a vida dela não foi a das melhores, mas ela soube tirar proveito de tudo o que acontecia e soube registrar de uma forma bela, assim como nossa grande escritora Rachel de Queiroz. As duas nos dão uma grandiosa lição.

Miguel Noronha Filho.